ATITUDES QUE REVELAM O PODER DE CRISTO

1.      INTRODUÇÃO

14 de maio de 2017, hoje no Brasil e em muitos países se comemora “O Dia das Mães” é um dia para celebrar e agradecer a todas as mães pela dedicação, amor e carinho que dão aos seus filhos diariamente. É comum no Dia das Mães os filhos fazerem surpresas às suas mães, dando presentes ou organizando atividades que demonstrem toda a admiração que sentem por ela. Neste dia especial, gostaria de destacar o registro que o evangelista Marcos faz de uma mãe que foi tremendamente abençoada por Jesus.  

2.      ELUCIDAÇÃO

O evangelista Marcos foi cooperador dos apóstolos de Jesus Cristo, sem sobre de dúvida, Marcos foi um homem usado por Deus. Foi ele que, inspirado pelo Espirita Santo, escreveu o primeiro evangelho de Jesus, datado em 70 d.C. segundo a tradição. Objetivo de Marcos é mostrar a obra de Deus através de seu filho Jesus para os gentios, e, principalmente, para Roma.

Na passagem em questão, está começando o “ministério de transição de Cristo”. O ministério de Jesus é marcado na Galileia e por sua decida a Jerusalém, no entanto, entre um espaço e outro, Jesus ia sempre para outros lugares a fim de estar a sós com seus discípulos, orando, ensinando-os, e os preparando apara a cruz que viria logo após em Jerusalém. Este momento no ministério de Jesus é chamado por alguns teólogos de ministério de “preparação” ou de “retiro”. Jesus vai para a cidade de Tiro e Sidom, com este propósito de “preparação”: ficar sozinho e talvez a sós com os doze discípulos.

A cidade de Tiro e Sidom eram sinônimas de paganismo, mal afamada desde os tempos do Antigo Testamento, já que desta região vinha a rainha Jezabel que seduziu Israel para a idolatria. Mas não somente por isso. Toda região fora de Judá era considerada pelos israelitas regiões de pessoas impuras. A Fenícia era umas dessas regiões que estava fora de Israel (ao seu lado). Como disse o historiador Joséfo: Fenícia "cercava a Galiléia".

Entretanto, querendo ocultar-se, Jesus foi encontrado por uma mãe que estava passando por um sério problema, sua filha estava endemoninhada. As atitudes dessa mãe revelaram o grandioso poder de Jesus cristo.

3.      TEMA: ATITUDES QUE REVELAM O PODER DE CRISTO

3.1. A PRIMEIRA ATITUDE É BUSCAR A CRISTO

 “Levantando-se, partiu dali para as terras de Tiro [e Sidom]. Tendo entrado numa casa, queria que ninguém o soubesse; no entanto, não pôde ocultar-se,  porque uma mulher, cuja filhinha estava possessa de espírito imundo, tendo ouvido a respeito dele, veio e prostrou-se-lhe aos pés” (Mc 7. 24-25).

            Jesus foi para as terras de Tiro e de Sidom, foi a única vez, até onde vai o registro, em que Jesus saiu da Palestina para visitar um território estritamente gentio. Seu propósito nessas viagens fora da Galiléia não foi, em primeiro lugar, ministrar às multidões, mas instruir seus discípulos, razão porque queria que ninguém o soubesse.

Entretanto, uma mãe o procura. Como diz o pastor Warren Wendel Wiersbe: “Jesus dirigiu-se a essa região (cerca de 64 quilômetros de Cafarnaum) para ter um pouco de privacidade, mas uma mulher aflita descobriu onde ele estava e buscou sua ajuda”[1]. Esta mãe, sabendo de Jesus, vai ao seu encontro. Vejamos de que forma ela busca auxilio de Jesus:

            I. Ela o busca intensamente e o encontra, “Jesus não pode ocultar-se” (v. 24).

            II. Ela se humilha diante de Jesus, “se prostrou aos pés” (v. 25).

            III. Ela suplica fervorosamente, “rogava-lhe” (v. 26).

            IV. Ela intercede convictamente, “rogava-lhe que expelisse de sua filha o demônio” (v. 26).

            Esta é uma mulher que busca a Jesus em oração. Ela tinha uma causa, sua filha estava possessa de espírito imundo, entretanto, esta causa é lançada nas mãos de Jesus quando ela se prostra o buscando intensamente. Esta mãe sabe que Jesus pode operar poderosamente em sua filha. Não é meramente uma atitude que valoriza a mulher, mas uma atitude que aponta para o poder de Jesus.

Da mesma forma, quando entregamos a nossa causa a Deus por meio da oração, nós estamos buscando-o. Quando assim procedemos, o tornamos Senhor das nossas vidas. Nós precisamos buscar ao Senhor. Como disse o próprio Senhor Jesus: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt. 6. 33).

            A quem primeiro nós buscamos, sem palavras, confessamos quem de fato é o nosso Senhor. Muitas vezes quando estamos passando por dificuldades procuramos muitas pessoas, porém, precisamos aprender a procurar o Senhor. Como diz o profeta: “Buscai ao Senhor, enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Is 55.6) O Cronista nos diz: “se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. Estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração que se fizer neste lugar” (2Cr. 7. 14-15)

3.2. A SEGUNDA ATITUDE É PERSEVERAR EM CRISTO

“Esta mulher era grega, de origem siro-fenícia, e rogava-lhe que expelisse de sua filha o demônio. Mas Jesus lhe disse: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ela, porém, lhe respondeu: Sim, Senhor; mas os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas das crianças.” (Mc 7. 26-28)

            Esta mãe perseverou no Senhor Jesus Cristo. Perseverar é ter persistência, firmeza e consistência. Perseverar é prosseguir, enfrentar e vencer toda e qualquer dificuldade. Vejamos algumas objeções que ela enfrentou com muita perseverança:

I. A situação estava contra ela. Ela procura por Jesus, quando o propósito primário de Jesus é ficar a sós,  no anonimato.

II. Sua nacionalidade estava contra ela. Era uma mulher grega, de origem siro-fenícia. Os siro-fenícios descendiam dos cananeus, e é sob esta classificação étnica que Mateus a descreve (Mt 15.22). Esta mulher era Cananéia e de cultura grega, por esta razão era desprezada pelos judeus.

III. A cultura estava contra ela. Pois era uma mulher numa sociedade dominada por homens. Dentro desta cultura era indigno uma mulher dirigir a palavra a um homem que não fosse da sua família.

IV. Um espírito maligno estava contra ela. O evangelista Marcos afirma que um demônio estava atormentando sua filha.

V. Os discípulos estavam contra ela. O evangelista Mateus registra que os discípulos pediram que Jesus a mandassem embora, a fim de terem sossego. (Mt. 15. 23)

VI. Até mesmo Jesus parecia estar contra ela. Pois Jesus respondeu: “Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos” (Mc 7.27).

Não era uma situação fácil, mas ela triunfou em perseverança. O substantivo grego traduzido "perseverança" significa "capacidade de aguentar ou manter-se firme em face de dificuldades". Foi o que ela fez! O pastor presbiteriano Matthew Hanry comentando esse texto sagrado diz: “Isso nos incentiva a orar e não desfalecer, a perseverar em oração até o fim, sem duvidar; a visão até ao fim falará, e não mentirá”[2]

 O texto sagrado ainda afirma que esta mãe “rogava-lhe”. O uso que Marcos faz do imperfeito grego descreve um pedido contínuo da mulher. Ou seja, a mulher rogava continuamente à Cristo.       

Mesmo diante da resposta de Jesus, ela se humilha e persevera pela bênção de Cristo. Perseverante desta forma ela contempla o poder de Cristo. Mesmo quando surgirem as objeções da vida, nós devemos continuar e perseverar no Senhor. John Charles Ryle, comentando este texto, afirma: “Para armarmos as nossas mentes com argumentos em prol da perseverança na oração, devemos estudar com frequência o caso dessa mulher”[3].

3.3. A TERCEIRA ATITUDE É CONFIAR EM CRISTO

“Então, lhe disse: Por causa desta palavra, podes ir; o demônio já saiu de tua filha. Voltando ela para casa, achou a menina sobre a cama, pois o demônio a deixara.” (Mc 7. 29-30)

            Esta mãe crê no poder de Jesus e confia em suas palavras. Ela não desiste, contudo, movida por fé, sabe do que Jesus pode realizar. Segundo alguns estudiosos, a fé desta mãe é fortalecida a cada nova etapa. Basta somente as migalhas que ela acredita que tudo pode mudar em sua filha. Por causa desta confiança, Jesus a abençoa e concedi-a sua petição. Assim sendo, ela confia nas palavras de Jesus e vai embora crendo que quando chegará em casa contemplará a sua filha sã e salva. O evangelista Dwight L. Moody afirma: “a resposta destemida da mulher foi à resposta da fé.”

            Ela está crente na palavra de Deus. A fé não está cronologicamente atrás das outras atitudes que revelam Cristo, mas, está em conjunto com os outros posicionamentos. Ou seja, é uma atitude lógica junta com as outras. A mulher busca por meio da Fé, a perseverança é consequência de fé e recebe seu pedido por intermédio da fé. É uma fé operosa que esta relacionada às suas atitudes.  Em suma:

I. Esta mãe é movida por fé quando vai até Jesus.

II. Esta mãe é movida por fé quando volta pra sua casa.

Nas palavras do teólogo Larry Hurtado: “A lição de Marcos é que os gentios que demonstram o mesmo tipo de prontidão em reconhecer suas necessidades e confiar em Jesus, podem salvar-se.”[4]

Além disto, esta fé tem base num conhecimento sobre Jesus. Não é uma fé ignorante, esta mãe não se lança no vácuo, ao contrário, ela se lança em Jesus, ela confia em Jesus, ela acredita na Palavra de Jesus. Sobre esta verdade o reformador de Genebra, João Calvino diz: “A fé não consiste na ignorância, senão no conhecimento; e este conhecimento há de se não somente de Deus, senão também de sua divina vontade.”

            A fé meus irmãos é uma atitude que nos revela o poder de Jesus Cristo. Devemos acreditar que basta somente as migalhas que caem da mesa de Cristo para recebermos poderosamente suas sublimes intervenções. Basta somente uma gota do poder de Jesus para sermos transformados. Basta somente uma Palavra de Cristo para que a nossa sincera petição seja realizada por sua operosidade. Como já dizia Santo Agostinho: “A fé é crer naquilo que não vês. A recompensa dessa fé é ver aquilo em que crês”.

A fé é de extrema importância para a vida da igreja. O apóstolo Paulo elogia a igreja de Tessalônica por esta sublime marca: “Damos, sempre, graças a Deus por todos vós... recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé” (1Ts 1.3). Precisamos ter fé no poder de Cristo Jesus: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6. 29). Homens e mulher de fé: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram” (Hb. 13. 7). Crer é uma necessidade! Nas palavras de J. N. Darby: “O poder do Senhor não era exercido no meio de evidente incredulidade.”[5]

4.      O MARAVILHOSO PODER DE JESUS CRISTO

O foco central do texto sagrado é revelar o poder de Jesus Cristo sobre principados e potestades. As atitudes desta mãe embora sejam dignas de serem imitadas, elas não são um fim em si mesmas. Elas estão expressas com um propósito maior: revelar as expressões grandiosas do Filho do Deus vivo, Jesus. Por esta razão o tema:  "atitudes que REVELAM o poder de JESUS". O que essas atitudes revelam sobre Cristo? O que o texto revela sobre Cristo?

4.1. JESUS ESCUTA A NOSSA ORAÇÃO

Esta mãe siro-fenícia vai até Jesus, pois ela sabe que Jesus pode escutá-la. De fato, Jesus ouviu o seu clamor. Enquanto ela clamava, Jesus a ouvia. Enquanto os discípulos a queriam mandar embora, Jesus não a despediu. Jesus escuta a nossa oração!

4.2. JESUS INTERVÉM EM NOSSA TRIBULAÇÃO

Esta mãe persevera, pois sabe que basta somente as migalhas oriundas do poder de Cristo para sua filha ser curada de sua enfermidade espiritual. Jesus tem poder para expelir demônios e intervi da vida de qualquer pessoa, seja judeu ou gentio! A promessa do Reino é para todas as nações.

4.3. JESUS É FIEL EM SUA PALAVRA

Jesus disse: “podes ir; o demônio já saiu de tua filha. Voltando ela para casa, achou a menina sobre a cama, pois o demônio a deixara” (Mc 7.29-30). Ela acreditou na Palavra do Mestre, pois o Mestre é fiel. Aquilo que Deus fala acontece. Tudo que Deus promete será realizado!

5.      CONCLUSÃO:

A filha desta amada mãe está agora descansando calmamente. Há muita paz agora na mente e no coração da filha, como também da mãe. Certamente, quando a mãe encontrou sua filha sã e descansando seu coração se encheu de alegria. Não poderia terminar este sermão sem citar duas maravilhosas implicações feitas por Wiliam Hendriksen: “Se os pais de hoje amassem seu Salvador e seus filhos como ela amou, muita dor e sofrimento seria evitada, e teríamos uma montanha de bênçãos. Se uma mulher gentia, com seu pequeno conhecimento do Senhor, pôde conseguir tão grande bênção, o que se espera daqueles que receberam maiores privilégios?”[6]

6.      BIBLIOGRAFIA

BÍBLIA DE GENEBRA. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. 1728p.

NOVO TESTAMENTO INTERLINEAR: grego-português. Barueri - SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004. 979p.

DARBY, N. J. Estudos Sobre a Palavra de Deus: Mateus a Marcos. Tradução: Dr. Martins do Vale. 251p.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Mateus a João. Edição Completa. Rio de Janeiro - RJ: CPAD, 2010. 1092p.

HURTADO, W. Larry. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Marcos. São Paulo – Sp: Editora Vida, 1995. 309p.

RYLE, C. John. Meditações no Evangelho de João. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2011. 222p.

---

[1] WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento 2. Tradução: Susana E. Klassen. Santo André, SP: Geográfica Editora,  2012. p. 175.

[2] HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Mateus a João. Edição Completa. Rio de Janeiro - RJ: CPAD, 2010. p. 443.

[3] RYLE, C. John. Meditações no Evangelho de João. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2011. 89

[4] HURTADO, W. Larry. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Marcos. São Paulo – Sp: Editora Vida, 1995.  p. 128

[5] DARBY, N. J. Estudos Sobre a Palavra de Deus: Mateus a Marcos. Tradução: Dr. Martins do Vale. p. 127

[6] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Marcos. Tradução: Elias Dantas. São Paulo- SP: Editora Cultura Cristã, 2003. p.383.