QUESTÕES DE ÉTICA SEXUAL




1.      INTRODUÇÃO

Quando lemos o sétimo mandamento: “Não adulterarás” (Êx. 20. 14; Dt. 5. 18), percebemos, que tal mandamento, nos leva a ponderar sobre a natureza do casamento na Bíblia. Somente a partir do conceito bíblico de casamento é que podemos tratar sobre questões de adultério e sexualidade.
Contudo, quando olhamos, de forma geral, para o casamento, e de certa forma, para a família em nossa sociedade, percebemos o declínio dos conceitos bíblicos revelados. Na verdade, nas ultimas décadas, houve uma mudança de paradigmas com respeito ao casamento, a família e questões sexuais. A herança e os fundamentos cristãos do ocidente foram, em sua maior parte, subvertidos por uma ideologia libertária ou antropocêntrica que exalta a liberdade humana e a autodeterminação como princípio supremo para os relacionamentos humanos. Por esta razão, muitos veem com satisfação o declínio do modelo bíblico e tradicional sobre o casamento e o sexo.
 Esta subversão trouxe sérias consequências. Dentre muitas consequências destaco duas que sobressaem. A primeira é o número extremamente elevado de divórcios. Seu alto preço incide, não apenas nas partes envolvidas, mas nos filhos, ainda que os mesmos não demonstrem. E a segunda é o sexo fora do casamento. Em uma sociedade que negou a ordem do sexo no casamento, ela se entrega as várias formas de relacionamento ilícito. Gravidez na adolescência e aborto são os resultados mais óbvios.
      Por esta razão, é justificável compreender e analisar o casamento bíblico para, desta forma, nortear as questões de ética sexual.    

2.      O CASAMENTO NA BÍBLIA E NA HISTÓRIA

Quando investigamos os ensinamentos bíblicos sobre o casamento, percebemos que não há paradigma mais importante do que o modelo que Deus estabeleceu para o matrimonio em Gênesis 1-3. Apesar de Genesis ter sido escrito originalmente para a geração de israelitas que estavam no deserto, preparando-se para entrar na terra prometida, os primeiros capítulos do livro fornecem os parâmetros do plano divino para o casamento em todas as épocas e para todas as sociedades, incluído a sociedade de hoje que está totalmente arraigadamente com o pós-modernismo².
O casamento, portanto, constitui em um ato de obediência ao ensino de Gênesis 2. 24: “Por essa razão, o homem deixará o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”. Alan Pallister, analisando esta verdade, afirma:

É um ato público em que a pessoa deixa a primeira família em que cresceu para se unir, pelo resto da sua vida, com uma pessoa do sexo oposto com a finalidade de construir uma nova família. O Texto de Gênesis não diz que tem que haver amor no sentido sexual, antes de haver casamento. Em algumas sociedades  o noivo e a noiva não se conhecem antes do dia do casamento que é uma cerimonia de responsabilidade exclusiva dos pais deles. Mas o ‘eros’ (amor sexual), sem dúvida, é um elemento que deve ser valorizado na relação dos casados. (PALLISTER, 2005, p. 168)

             O teólogo alemão, Helmut Thielicke, mostra como o “eros”, nos tempos do Antigo Testamento, era mais resultado do casamento do que pré-condição para ele. (THIELICKE, 1979).
            Considerando, portanto, que o sexo era apenas para o casamento, qual era a condição e o processo para a união das partes em uma aliança? É difícil extrair da bíblia um padrão para o casamento, mas, Pallister, deduz o seguinte:

Primeiro, as famílias tinham que decidir as questões relacionadas aos dotes, contrato e cerimônia. Sem esse acordo não era concebível a união de duas vidas. Depois, no momento em que se acertava a união do par, o noivo e seus companheiros davam o primeiro passo, indo a casa da família da noiva para cumprimentar e oferecer prendas e bebidas. A seguir, regressavam a casa do noivo, onde havia dança e musica (Sl 45. 15; Mt 25. 1-10, ver também o livro apócrifo, 1 Macabeus 9. 39). Depois o contrato, que utilizava palavras semelhantes às de Oséias 2. 19, 20, era lido. Por meio de documentos da Comunidade Elefantina, do século V a. C., sabemos que na época do contrato incluía a frase: “Ela é a minha mulher e eu sou o seu marido desde esse dia e para sempre”. Depois os convidados davam a sua bênção (livro apócrifo Tobias 7. 13). Havia uma refeição em que os convidados usavam uma vestimenta especial (Mt 22. 7, 11, 12) e em que se bebia vinho (Jo 2. 1-11). Depois disso, o noivo punha uma manta sobre a noiva (Ez 16. 8). Os pais e os amigos da noiva os acom-panhavam  até a porta do quarto, onde a noiva tirava seu véu  e o casamento era consumado (Gn 29. 23-25). Depois, acontecia uma festa que podia durar uma ou duas semanas (Gn 29.27 e Jz 14. 12-18). (PALLISTER, 2005, p. 170).

Além do período bíblico, podemos notar no período pós-apostólico, alguns pregadores falando sobre do casamento.
Um dos pais da igreja que não é muito a favor do casamento é Inácio (67 - 110 d.C.), bispo de Antioquia, discípulo do apóstolo João, sucessor do Apostolo Pedro na igreja em Antioquia fundada pelo próprio apóstolo. Ele “chamava as virgens voluntárias de ‘as joias de Cristo’”(HODGE, Teologia sistemática, p.1299). E dizia que “o celibato era algo que devia ser praticado por todos os capazes, mas isso não seria uma regra imposta aos líderes e aos membros da Igreja”. (CHAMPLIN, Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia, p.300).
Orígenes (185 — 253 d.C.), um dos renomados pais da igreja, “considerava o casamento uma contaminação”  (HODGE, Teologia sistemática, p.1299). “Como sua posição forçava-o a uma íntima associação com muitas mulheres algumas das quais novas convertidas, e sentindo as tentações naturais da natureza sexual, ele fez-se castrar, para resolver definitivamente o problema” (CHAMPLIN, Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia, p.626).
Tertuliano nasce por volta de 150 d.C., “denuncia os segundos casamentos como criminosos, e faz do celibato o ideal da vida cristã, não só para o clero, mas também para os leigos”.  (HODGE, Teologia sistemática, p.1299)
Agostinho (354 – 430 d.C.), também não é muito a favor do casamento. Ele disse que é melhor não casar, porque assim Cristo volta antes. Contudo, ele é um homem que tem uma vida um tanto promíscua antes de sua conversão.
Durante o período dos reformadores o primeiro personagem que encontramos é Martinho Lutero (1483 – 1546). Deste cedo, era contrário ao celibato forçado do clero. Para ele, segundo a instituição de Cristo e dos apóstolos, cada cidade deve ter um pároco ou um bispo, conforme escreve claramente Paulo em Tito 1.5. Não se deve insistir a que esse pároco viva sem esposa legítima. Ele a pode ter conforme escreve Paulo em I Timóteo 3.2 e Tito 1.6 dizendo: “(um presbítero) seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, e nem são insubordinados”, etc.
Quando rompe definitivamente com a Igreja Católica Romana, encoraja o casamento de padres e freiras que tinham preferido passar à Reforma Protestante. Ele deu o exemplo, contraindo casamento com Catarina Von Bora.
Outro personagem da reforma é João Calvino. Para ele “o casamento não era apenas uma necessidade premente, mas uma questão de coerência”. Calvino combatia tenazmente o celibato católico, não podia ser um celibatário. Vê os grandes males que a instituição do celibato causa a vida da igreja e insiste na sua falta absoluta de base bíblica. (FERREIRA, Calvino: vida, influência e teologia, p. 93). No quarto livro, Calvino reluta contra o celibato obrigado dos bispos por parte da Igreja.

Prometem a Deus perpétua virgindade, como se já antes fizessem um pacto com Deus para que os livrasse da necessidade do casamento. Não há razão por que alegam que pronunciam este voto calcados somente na graça de Deus, pois quando ele mesmo declara que o dom não é dado a todos [Mt 19.11, 12], não temos como pretender a certeza de possuir um dom especial. (CALVINO, Institutas, IV, xiii, 17)

Em suas Institutas, Calvino expõe o sétimo mandamento e diz que é certo que o ser humano não foi criado para viver só, pelo contrário, Deus instituiu o casamento exatamente para que o homem possa usufruir de um recurso que é seu por direito. Calvino, portanto, defende o casamento, tendo-o como algo instituído por Deus.

Ninguém, inconsideradamente, despreze o matrimônio como se fosse algo inútil ou supérfluo; ninguém de outra maneira procure o celibato para que possa prescindir-se de uma esposa. Nem nisso, aliás, granjeia a tranqüilidade ou comodidade da carne, mas somente que, desvinculado deste laço, esteja mais pronto e mais preparado para todos os misteres da piedade. E uma vez que esta bênção a muitos é conferida apenas por um tempo, abstenha-se cada um do matrimônio por tanto tempo quanto será capaz de conservar o celibato(CALVINO, Institutas, II, viii, 43)

Este pensamento de Calvino é interessante, pois, ele coloca o casamento como algo que é uma verdadeira bênção de Deus.
Após a Reforma, o puritanismo colaborou muito para a consolidação dos ensinos Bíblicos. A doutrina puritana sobre o casamento foi um divisor de águas na história cultural do ocidente. Pois os puritanos discordavam do pensamento da Igreja Católica de Roma que defendia o pensamento predominante na Idade Média que dizia que o amor sexual em si era mal. Esse pensamento era defendido por Ambrósio e Tertuliano que deixaram claro com seus pensamentos que preferiam a extinção da raça humana à sua propagação do pecado, isto é, através do intercurso sexual.
Os puritanos, seguindo o pensamento dos reformadores, exaltaram o matrimônio em consciente contradição à noção medieval de que o celibato, praticado pelos padres, monges e freiras, é melhor e mais agradável a Deus, do que o casamento, a procriação e a vida em família.

O casamento é a união de um homem e de uma mulher, aos quais Deus juntou de acordo com a sua Palavra, com o consentimento de ambos, para dali por diante viverem juntos e passarem a sua vida em igual participação de todas as coisas que Deus lhes enviar, com o intuito de que produção filhos no temor a Deus, de que evitem a prostituição, e de que (de acordo com o beneplácito de Deus) um ajude e console o outro.  (PACKER, Entre os gigantes de Deus, p. 281).

Os puritanos, então, veem com tanta confiança o propósito da família como sendo a glória de Deus porque creem que Deus estabelece a instituição da família.

3.      TEOLOGIA DO CASAMENTO

O relato, em Genesis, da criação original do homem e da mulher dão os subsídios teológicos para o casamento, e consequentemente, para os papéis conjugais e à sexualidade. Andreas J. Kostenberger, em seu livro “Deus, Casamento e Família”, destaca três conjuntos importantes de princípios teológicos extraídos em gênesis sobre o casamento:
(1) O homem e a mulher foram criados a imagem de Deus para governar a terra para Deus; (2) o homem foi criado primeiro e incumbido da responsabilidade final pelo relacionamento conjugal, enquanto a mulher é colocada junto ao homem  para ser sua ajudadora adequada; e (3) a queda da humanidade no pecado implica consequências negativas tanto para o homem quanto pra a mulher. (KOSTENBERGER, 2015, p. 28)

O fato de homens e mulheres terem sido criados à imagem e semelhança de seu Criador, isso lhes confere valor, dignidade e grande importância. Assim, eles são semelhantes, porém isso não significa que os papeis, tanto para o homem e a mulher, são iguais. Eles são mordomos de Deus e a mordomia é conjunta. Homem e mulher devem exerce-la juntos, de acordo com a vontade de Deus para a glória dele. “Juntos devem se multiplicar e cuidar dos filhos que Deus lhes der. E Juntos devem sujeitar a terra por meio da divisão de tarefas que atribui ao homem a responsabilidade principal de prover para sua esposa e filhos e incumbe a mulher de cuidar da família.” (KOSTENBERGR, 2015, p. 30)
A criação de Eva mostra o plano divino para o casamento de Adão, bem como para os casamentos subsequentes e aponta para um relacionamento monogâmico e heterossexual. Deus criou uma ajudadora adequada para Adão e ela era mulher. Além do mais, foi Deus quem percebeu a solidão de Adão e por isso criou a mulher. Falando sobre esta verdade Kostenberger afirma que

o texto bíblico não dá nenhum indicação de que o próprio Adão tivesse consciência de sua solidão ou estivesse descontente com o fato de ser solidário. Antes, mostra que Deus tomou a iniciativa de criar uma companheira humana compatível para o homem. Por esse motivo, podemos afirmar que o casamento foi idéia de Deus e que foi Deus quem criou a mulher, segundo sua vontade soberana, como ajudadora adequada para o homem. (Gn 2. 18, 20) ((KOSTENBERGR, 2015, p. 30)

Segundo as Sagradas Escrituras a formação da raça humana foi um ato divino, pois o texto Bíblico relata: que Deus decidiu criar o homem a Sua imagem e semelhança. (Gn.1.26).
Deus, no ato de criar, demonstrou seu intento e produziu seu reino cósmico. A humanidade faz parte desse domínio criado. Mas somente os seres humanos são criados em uma relação de amor no tocante ao  casamento entre um homem e uma mulher. Deus deu a humanidade três mandatos específicos. O mandato cultural, onde o homem e a mulher têm que exercitar suas prerrogativas reais governando sobre o cosmo, desenvolvendo-o e simultaneamente mantendo-o. O mandato social, aqui a mulher tem que cumprir seu papel como auxiliadora, parturiente e mãe cuidadora, em quanto que o homem tem que reconhecer a mulher como carne de sua carne e osso de seus ossos. E por fim o mandato espiritual, a relação do homem com Deus, o homem e a mulher tem que ser o que foram feitos para ser seres que criados para a gloria do seu criador, Deus.
No texto do em Genesis 22, lê-se: “E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe”. Não vendo o Senhor alguém que lhe auxiliasse fez a mulher para que essa o ajudasse. Deus então transformou-a, edificou, construiu uma mulher. Ele formou a mulher com suas próprias mãos.
Outro fato importante encontra-se no livro Genesis onde Moisés comenta esta narrativa de forma maravilhosa dizendo “por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Percebem-se três traços ou marcas os quais são essenciais no casamento.
Primeiro o homem deve deixar seus pais e se unir a uma mulher no casamento onde, as prioridades dele, se voltam para a sua esposa.
Segundo. Deve unir-se concomitantemente. O novo relacionamento nascido no casamento é inseparável, a palavra deixara o homem pai e mãe é de que foram “cimentados ao mesmo tempo por uma união monogâmica”.
Por último o homem e a mulher tornam-se uma só carne. Eles agora são um, não existe mais dois, mas somente um no tocante a um relacionamento monogâmico eles são visto por Deus como se fossem uma só carne. Nesta união deve haver um relacionamento perfeito entre o homem e a mulher no casamento.
Palmer Robertson, no seu livro Cristo dos Pactos, fala que “o ser uma só carne descrito nas Escrituras não se refere simplesmente aos vários momentos da consumação marital. Em vez disto, esta unidade descreve a condição permanente de união alcançada pelo casamento”.  (ROBERTSON, O Cristo dos pactos, p. 72).
A expansão do reino de Deus como um dos propósitos de Deus no casamento é algo que deve ser buscado por todos os que fazem parte dessa aliança.
Nos livros poéticos notamos principalmente que os Salmos relatam vários momentos em que o povo de Deus passou e passa em suas vidas. Concluímos então que a Lei do Senhor é a base para a vida do povo e para estes escritos. E esta ordem é então visto por diversas vezes nos Salmos e mais especificamente vemos também o casamento sendo abordado em alguns desses Salmos. Exemplos destes são os salmos 45, 127 e 128 os quais abordam o tema do casamento e da família em si. O Dr. van Groningen diz o seguinte:

Ao rever passagens dos Salmos certamente somos informados de que casamento e famílias desempenhavam papeis muito importantes na comunidade pactual. Javé não abria a porta para as aspirações, desejo ou preferência de certos grupos de pessoas com respeito a casamento e família. Deus Javé estava sempre lembrando a seu povo adorador aquilo que estava envolvido em conhecer e obedecer ao mandato social da aliança. (GRONINGEN, Criação e consumação Vol. III¸p.234).

“Nos livros poéticos, mas em especial Provérbios vemos o casamento ser abordado em muitos desses provérbios, e percebemos claramente que a união entre um homem e uma mulher é a norma, tanto pela ausência de qualquer alusão às discórdias da poligamia, como pelo vinculo totalmente pessoal que sempre é pressuposto entre marido e esposa” (KIDNER, Provérbios – introdução e comentário, p.48.)
Encontramos em provérbios 31.10-31, uma nota elevada sobre as mulheres.  Este elogio é feito em forma de acróstico. Cada verso começa com uma letra do alfabeto hebraico. O que notamos é que o autor trabalhou de maneira bem ordeira e bem pensada.  (CHAMPLIN, O AT interpretado versículo por versículo, p. 2693). Esta mulher citada nesta passagem é exemplar, de ‘caráter nobre’ – virtuosa. Ela está plenamente envolvida com a sua família e é apresentada, na Palavra Inspirada, com grandes elogios por sua operosidade e talentos. Ela não é uma mulher frustrada por causa de suas obrigações e deveres na família, mas alguém que alegremente se empenha em suas atividades diárias. Não há aqui o retrato de alguém impedida no desenvolvimento de suas habilidades intelectuais, mas uma que rege muito bem cada espaço e esfera de atividade que cai em suas mãos – é alguém que também está ativamente procurando as oportunidades de desenvolvimento.
Em contraste com “aqueles valores” encantadores, mas duvidosos, este é o verdadeiro valor, o “temor do Senhor”; isso é o que realmente vale para um homem ou um mulher. Esse é o lema do livro de provérbios apropriadamente retirado aqui, no fim do livro. Portanto, esse lema começa e encerra o livro. Reflete a espiritualidade do Antigo Testamento, que tem a lei como guia. Produz a vida, porquanto promove a sabedoria. O homem ou a mulher que possui sabedoria serão elogiados tanto pelos homens quanto por Deus. A mulher que a possui tem favor e beleza duradouros, verdadeira fé e graça, harmonias e simetrias da alma. Ela merece louvor permanente e é dotada de beleza imorredoura. Os olhos de Deus estão sobre ela, comunicando-lhe a sua graça. (CHAMPLIN, O AT interpretado versículo por versículo, p. 2695).
Então podemos dizer que os livros poéticos, nos mostram a importância do casamento como propósito de Deus para seu povo. Dando-nos exemplos e instruções para que não venhamos a ceder à tentação e nos desviar dos caminhos de Deus, pois o segredo é ter uma vida de busca constante da santificação e pureza no casamento, pois tendo uma vida de piedade irar refletir em um relacionamento dentro dos propósitos divino.
Podemos ver no evangelho o Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo questionado sobre temas como casamento e também como Ele via outras questões que envolvia a família no tocante também ao divórcio, então Jesus ensina como estas questões deveriam ser vistas e respeitadas por todos que entendia o casamento como uma instituição santa e separada por Deus Pai. (Mt 19).
Nas epistolas paulinas Paulo valoriza o casamento como uma instituição divina protegida pelo mandamento expresso de Cristo. Paulo não tem o casamento como um mal necessário. Ele só se coloca contrário ao casamento quando este é realizado fora dos padrões de Deus, ou seja, quando o casamento vai de encontro à lei de Deus e não a sua própria vontade de fazer o que almejar.

4.      CASAMENTO E QUESTÕES DE ÉTICA SEXUAL
Portanto, diante de toda esta alegação bíblica “a unidade interpessoal entre um homem e uma mulher na sua mais plena expressão, em que marido e mulher se tornam, em certo sentido, duas pessoas em uma”. (GRUDEM, Teologia sistemática, p. 373.) Fica claro nesta definição de Grudem que a ênfase que ele dá é na unidade entre um homem e uma mulher. Unidade essa física, espiritual e emocional. Portanto, marido e mulher unidos pelo casamento são duas pessoas que Deus uniu. Sendo assim, as questões de ética sexual esta norteada pelo casamento e não fora dele.
Outro fator importante tem haver com os elementos do casamento. A forma como Deus realizou o primeiro casamento deixa claro quais são os seus elementos. Deus trouxe a mulher para o homem, estabelecendo o casamento como a primeira e mais fundamental das instituições humanas. (BEEKE, Revista os puritanos, p. 5).  Então, os elementos básicos são: Deus, o marido, a mulher e a aliança que é feita entre as partes.
Deus está acima do casamento porque foi ele quem o instituiu e a aliança que é feita é diante Dele. Ao instituir o casamento Deus já coloca como o mesmo deve ser consumado. Ele deve ser heterossexual, pois Deus criou homem e mulher, portanto, qualquer união contrária a essa não pode ser considerada como casamento; ele deve ser monogâmico. Apesar de serem duas pessoas distintas, marido e mulher passam a ser uma só carne com o casamento; e também ele deve ser com um caráter indissolúvel, para toda a vida, uma união permanente. (LOPES, Casamento, divórcio e novo casamento, pp. 25-35).
Tendo isso em vista, podemos compreender solidamente o sétimo mandamento.
No mandamento Não adulterarás podemos perceber também uma razão do porque, aqueles que estão aptos para o casamento devem procurá-lo. Calvino define a aplicação principal deste mandamento nas seguintes palavras:

A suma, portanto, será que nos não poluamos de qualquer imundície ou libidinosa incontinência. A isto corresponde o preceito afirmativo: que dirijamos todas as partes de nossa vida casta e continentemente. Proíbe, porém, expressamente, a fornicação, a que tende toda concupiscência, para que, por sua torpeza, que é mais crassa e mais palpável em que, de fato, até imprime ao corpo a (sua) mácula, nos conduza à abominação de toda concupiscência, qualquer que seja. (CALVINO, As institutas, vol II, p. 167).

Assim sendo, este mandamento proíbe qualquer pratica sexual fora do casamento, o que garante ao casamento a sua proteção e santificação por ser ele instituído por Deus. (REIFLER, A ética dos dez mandamentos, p.145). Por isso, o homem que não é apto para uma vida de celibato deve buscá-lo para evitar ter uma vida de pecado.
Contudo, a Bíblia deixa implícito que existem pessoas que podem ser chamadas para o celibato. Jesus diz: porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita (Mt. 19.12). Notemos que o homem foi originalmente formado sem que ele tivesse uma esposa. Por isso, um ser humano pode viver muito bem sem estar casado. Homem e mulher são capazes de ter vidas profundamente realizadas ainda que na condição de solteiros. (ROBERTSON, Revista os puritanos, p.10.) David Powlison diz que: “alguém que saiba usar bem sua condição de solteiro ou solteira tem flexibilidade e liberdade para fazer coisas que uma pessoa casada não pode nem considerar”. (POWLISON, Coletâneas de aconselhamento bíblico – Devemos nos casar? p.144.)

5.      CONCLUSÃO

Percebemos que o casamento tenha sido instituído por Deus, vemos nos dias de hoje uma verdadeira desvalorização quanto ao pacto que é feito entre as partes e diante de Deus, e, infelizmente, esta é uma realidade que encontra-se dentro das igrejas. O divórcio tornou-se um escape para aqueles que dizem não estarem felizes em seus casamentos. A frase mais importante do casamento. ‘Eu amarei você para sempre’ deixou de ser uma promessa social e passou a ser simplesmente uma frase dita para enganar o outro.
Portanto, neste trabalho que tem tomado por base o princípio bíblico no que se refere ao propósito divino para questões de ética sexual observamos de forma sucinta  tais questões como o casamento, celibato, o adultério, divórcio e o novo casamento.

Rev. Otávio Campos


6.      BIBLIOGRAFIA

PALLISTER, Alan. Ética Cristã Hoje: vivendo um cristianismo coerente em uma sociedade em mudança rápida. São Paulo: Shedd Publicações, 2005. 279p.
THIELICKE, Helmut. Theological Ethics. Ed.: Eerdmans, 1979.
CHAMPLIM, Russell Normam. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Vol. 1, São Paulo: Candeia, 1997.
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Tradutor: Valter Martins, São Paulo: Hagnos, 2001.
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã. Vol. 3, Tradutor: Waldir Carvalho Luz, São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
PACKER, J. I. Entre os gigantes de Deus. São Paulo: Fiel, 1991.
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos pactos. São Paulo: Cultura Cristã: 2002.
GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação: O Reino A Aliança e O Mediador, Tradutor (a): Helen Hope Gordon Silva, Vol. 3, São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
KIDNER, Derek. Provérbios introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1992.
CHAMPLIM, Russell Normam. O Antigo Testamento interpretado: versículo por versículo, Vol. IV, São Paulo: Hagnos, 2001.
KOSTENBERGR, Andreas J. Deus, casamento e família: reconstruindo o fundamento bíblico. Tradução: Susana Klassen. 2 Ed. São Paulo: Vida Nova, 2015
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2002.
BEEKE, Joel. A Criação da Mulher. Revista Os Puritanos. Ano XII. Número 2. 2004.
LOPES, Hernandes Dias. Casamento, divórcio e novo casamento. São Paulo: Hagnos, 2005.  
REIFLER. Hans Ulrich. A Ética dos Dez Mandamentos: Um modelo de ética para os nossos dias. São Paulo: Vida Nova, 1992.
POWLISON, David A.  Coletâneas de Aconselhamento Bíblico – Devemos nos casar?. Vol. 2. São Paulo: SBPV.




[1] Pastor da 3ª Igreja Presbiteriana de Caruaru. Formado em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, Recife - Pe. Graduado em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo -SP
[2] Termo que define a ideologia em massa do tempo pós-moderno. Não existe mais um padrão absoluto de conhecimento. Tudo é relativo. E a verdade bíblica é subvertida pelo relativismo filosófico e prático.

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